Transver o Mundo


Reolhar, Desver & Transver

A exposição “Transver o mundo” convida a uma imersão de tempo e entrega, seguindo a inspiração do poeta Manoel de Barros, cuja frase “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.” Em um tempo marcado pela velocidade e pelo excesso de imagens digitais, a obra de Vasconcelos propõe uma pausa para contemplar sem explicação e se abrir aos mistérios.

Na fotografia, Eduardo Vasconcelos explora uma contemplação alongada do mundo e da natureza, captando imagens em diferentes horas do dia e condições de luz, com enquadramentos inusitados e atenção a detalhes que escapam ao olhar cotidiano. Inspirado pelos impressionistas, surrealistas e abstratos, e turbinado pela poética de Manoel de Barros, suas fotos nos convidam a sair dos hábitos e a ter olhares mais aventureiros e múltiplas leituras da realidade. O artista faz questão de ressaltar que suas fotos não passam por manipulações radicais, apenas por um rebalanceamento de cores e luz, mostrando que a imagem estava realmente ali. A exposição inclui tanto fotos impressas com tecnologias de fine art quanto um slide show de fotos feitas com câmera de celular, democratizando o acesso à prática fotográfica e à produção de arte. As imagens de Vasconcelos são belas e agradáveis, mas frequentemente enigmáticas, mobilizando o inconsciente e a imaginação para um novo esforço de compreensão e uma relação mais ativa e poética com o olhar.

Na escultura, Eduardo Vasconcelos iniciou sua trajetória modelando cerâmica, depois combinou figuras humanas com raízes naturais, e, seguindo os passos de Manoel de Barros, passou a coletar pedaços de madeira velha, modelados ao longo de décadas por agentes naturais. A arte, assim, é feita pela própria natureza, passando pelos olhos e mãos do artista que “tira da natureza as naturalidades”. As peças escolhidas passam apenas por limpeza, descupinização, selagem e montagem em bases de ferro, representando a sociedade industrial que enferruja, em contraste com a durabilidade da natureza. Essa prática estimula uma postura menos interventiva e mais contemplativa da natureza, revelando o valor estético de elementos descartados e considerados inúteis pela sociedade consumista. As esculturas também estabelecem uma analogia com o longo processo de formação do cosmos e da evolução da vida na Terra, convidando a uma reflexão sobre a importância da diversidade. Os nomes das esculturas citam emoções e estados psíquicos universais, representando desafios e conquistas do processo de individuação psicológica